Ponto de vista: A volta do Aeroporto Dois de Julho

30.8.22


Para o querido casal Amelinha e Eduardo Morais de Castro! 

A proximidade do bicentenário da Independência do Brasil, que só foi consolidada em 02 de Julho de 1823, com a expulsão das tropas portuguesas que dominavam a Bahia, oferece oportunidade única para a correção de equívocos que comprometem a imagem dos baianos diante do Brasil e do Mundo. A fonte desses erros é, sem dúvida, a ignorância abissal, inclusive entre pessoas de nível superior, a respeito do papel decisivo desempenhado pelos baianos para assegurar nossa Independência, proclamada por D. Pedro I, em sete de setembro de 1822. Sem o Dois de Julho de 1823, o Brasil ter-se-ia dividido em só Deus sabe em quantos países, como aconteceu com as colônias espanholas no Continente Americano.

De tal modo os baianos se ufanavam do seu feito heroico que toda pessoa de projeção social, em qualquer domínio, para consolidar o seu prestígio, ao longo do Século XIX, sentia-se compelida a produzir algo que exaltasse o feito histórico da derrota final de nossos colonizadores, como tão bem exposto no livro O Dois de Julho na Bahia, da lavra da historiadora Lizir Arcanjo Alves. Entre essas manifestações, avulta a Ode ao Dois de Julho, de Castro Alves, o mais belo poema heroico de todos os tempos.   

Para a maioria esmagadora dos partícipes, a tradicional passeata do Dois de Julho, da Lapinha ao Campo Grande, passou a ser mais uma de nossas álacres celebrações populares, para beber, paquerar ou oportunidade de aferição da popularidade de políticos do momento. Essa ignorância responde pela crescente minimização da importância do marcante feito baiano, a ponto de só em 2013, a data Dois de Julho ter passado a ser, legalmente, reconhecida como efeméride nacional. Recentemente, a Câmara de Patrimônio Imaterial do IPHAN negou o reconhecimento das festividades alusivas ao Dois de Julho como integrantes do patrimônio imaterial de nosso País. Santa ignorância, contra a qual o IGHB se levanta. 

O mais grave de todos os erros, porém, do qual os demais derivam, foi a mudança do nome de nosso aeroporto que deixou de ser Aeroporto Dois de Julho para ser Deputado Luís Eduardo Magalhães. Nada contra a memória do talentoso político, tão sentida e precocemente desaparecido. Ninguém, absolutamente ninguém, merece carregar perante a história o ônus de ter o seu nome olvidando a mais importante conquista de sua terra e sua gente, ainda que seja compreensível a motivação dos que prantearam a inesperada morte do jovem estadista. Registre-se que o avô de Luís Eduardo Magalhães, Dr. Francisco Peixoto de Magalhães Neto, entre tantas e importantes contribuições à vida cultural da Bahia, presidiu o IGHB nos 19 anos entre 01/01/1950 e 31/3/1969. Especula-se que o seu cultivado espírito subscreve esse clamor: no momento em que a Bahia se engalana para restaurar o prestígio de sua contribuição para assegurar a unidade territorial brasileira, com ações que culminaram no Dois de Julho de 1823, torna-se indispensável a restauração do nome original de nosso aeroporto, como reiteradamente pedem instituições e pessoas esclarecidas! Ainda que seja uma decisão do Congresso Nacional, é vital, para o alcance desse propósito, a posição do Governador de nosso Estado, no caso, o que vier a ser eleito no pleito iminente. 

Aqui vai uma sugestão do IGHB, pela unanimidade de sua diretoria, para que nossos meios de comunicação façam desse assunto o tema de pauta jornalística, inquirindo os candidatos a todos os postos sobre o que pensam a respeito. Vivemos um momento único para corrigir os pecados omissivos sobre a momentosa questão e darmos uma demonstração ostensiva de nossa afinidade com o mandamento “nunca mais, nunca mais o despotismo, regerá, regerá nossas ações, (porque) com tiranos não combinam brasileiros, brasileiros corações”, em sintonia, também, com a crescente decisão de baianos e brasileiros de não votar em ladrões. 



Por Joaci Góes


PUBLICADO EM: Tribuna da Bahia, Salvador - 25/08/2022

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