Ninguém no mundo gosta e é louco por carnaval mais do que eu.

Desde muito pequeno, já esperava a festa contando os dias e, na madrugada de terça feira, o nó na garganta era apertado, porque no outro dia era Cinzas.

Na minha cabeça, carnaval é espírito. Quando chega o dia, quem é carnavalesco, acorda com esse espírito incorporado e pronto. O mundo para e as atenções são só para o curto reinado de MOMO.

Pulando mil etapas, para chegar logo no tema, vou me remeter ao ano de 1955, portanto aos seis anos, foi quando vi pela primeira vez um trio elétrico. Vestido de pierrô, com meu pai, na praça Castro Alves, morrendo de sono, vi adentrando a jurisdição do poeta aquele monumental veículo, com mil luzes, com uma pintura multicor e um som ensurdecedor. 

Com os componentes (percussão) vestidos com fantasias iguais e, no mais alto patamar, como se fôra um altar (aos meus olhos infantis), o trio de instrumentos elétricos, um violão eletrificado, um cavaquinho, idem, e o contra baixo também, fiquei hipnotizado, petrificado, o sono foi embora, e quando meu pai anunciou a retirada, pedi a ele pra ficar mais um pouco - acho que fui atendido.

Nunca mais essa imagem saiu de minha cabeça. Sempre sonhando em um dia subir num trio .

Realizei esse sonho depois, milhões de vezes, acompanhado a evolução desse equipamento mágico.

Hoje são gigantes lindíssimos, com uma estrutura monumental e uma parafernália técnica de fazer inveja a qualquer disco voador. Até cantar, eu cantei (a voz foi introduzida pelo imortal Moraes Moreira). No Bloco do Barão, cantei em cima do trio. Sensação indescritível.

Em cima do trio você tem uma visão total dos foliões, não por fora, mas principalmente por dentro, no semblante, no físico, na atitude, na solidariedade, enfim , um retrato fiel dessa magia que se chama CARNAVAL.

Espero ter passado nesse texto o sentimento que tenho, por ser um carnavalesco nato.

Procure uma forma de subir num trio, acredite, a vida muda.

Afinal, já disse Caetano: "Atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu".

Ruy Botelho.

IMAGEM DE CAPA: Manu Dias/GOVBA