Baiaco, o carro
21.1.22Ganhei de meu pai o primeiro carro, Fusca 67, como prêmio pela aprovação no exame vestibular. Alegria total. Porém, fiquei pouco tempo com o simpático fusquinha, que tinha 1.200 cc de potência, porque minha paixão era a coqueluche (palavra antiga!!!) da Volkswagen, o Karmanguia. Sonho de todo adolescente, era lindo.
Consegui com o velho o complemento do valor que, somados a venda do saudoso e operacional fusquinha, foram suficientes para a aquisição deste, que foi o melhor carro que tive .
Azul turquesa, 1500 de força, design moderno, poucas unidades na cidade, portanto um status e tanto. De cara as modificações de praxe, rodas mais largas, cabeçote rebaixado, toca fitas que naturalmente era retirado quando se ia ao cinema ou restantes, para evitar que o amigo do alheio aparecesse .
O carrinho era um companheirão, quantas namoradas se apaixonavam pelo bólido muito mais do que por mim, verdade. Meu amigo Lafayette também teve um igualmente lindo, verde água, com ignição no assoalho, que também era novidade. Taty também tinha um branco, que ele batizou com o nome Carmen, e é aí que começa a história.
Seguinte: o Esporte Clube Bahia tinha um jogador, Baiaca, que até hoje é um dos maiores ídolos do clube. Pronto, estava aí definido o nome do meu.
Como todo automóvel, Baiaco, também cumprindo seu ciclo de vida, começou a dar sinais de cansaço de tanto trabalho e uso.
A bateria, por exemplo, que ficava junto ao motor e descansava numa bandeja, volta e meia deslizava, desligando toda a parte elétrica, obrigando que se tivesse que religar para o prosseguimento da viagem. Uma vez isso aconteceu na porta de uma casa suspeita e as moças, que trabalhavam lá, chamavam, dizendo: "Seixa esse carro aí, amor, aqui está melhor".
Depois, os mecanismos também começaram a trabalhar em sincronia. Aí, bater forte a porta determinava a abertura da mala, além de outros contratempos.
Chegou a hora de, com muita tristeza e saudade, passa-lo adiante .
Vendido, nunca mais soube de Baiaco. Muito tempo depois, me chegou a notícia que foi visto acidentado e moribundo, por causa de uma colisão com uma árvore, perto de Aracaju, em Sergipe.
Obrigado, Baiaco, por tudo que você me proporcionou.
Nunca mais outro carro igual.
Ruy Botelho.
IMAGEM DE CAPA: Carro foto criado por senivpetro - br.freepik.com
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