Ao longo da vida, conhecemos pessoas notáveis, que passam a fazer parte do nosso cotidiano e que nos ajudam a levar essa vida dura com alegria.

Sou fã  de um exército, que chamei de exército alegre, porque seus componentes disciplinados atendem pedidos, dos mais simples até os mais complexos .

Eles são os meus amigos, garçons, maîtres e afins.

Vamos tentar lembrar alguns, porque todos, seria impossível.

Começando pelo mais velho até os de hoje.

Hamilton do Oceania, talvez o mais simpático de todos. Antes de partir para o céu, meu irmão Sérgio Bezerra o levou pro Hábeas Copos (ou nome de bar bacana), onde ficou até a embarque. Michel (Oceania), educadíssimo, me disse, um dia, que seu trabalho era todo em função da filha que era deficiente. Fui um dia a seu convite, a sua casa, e  constatei o fato, passando a respeitá-lo mais ainda. 

Fantasma (Oceania), calado e observador. Hélio, português perfeito e raciocínio rápido. Barra Vento (Oceania e Barra Vento) . Ainda bem jovem, mas ligado no metiê. Gaguinho (Oceania) já conheci se aposentando, estava cansado, parou de trabalhar. 

Vovô, esse é um capítulo à parte, era danado, competente e super sabido. Um dia pedi um camarão (uma unidade por causa do tamanho), ele trouxe um que achei pequeno, reclamei e imediatamente ele trocou por um maior. Entre um  uísque e outro, pedi mais uns três e, quando já ia embora, pedi a conta, aí ele me disse um dito poupar da época: “Caiu no artigo". Perguntei, "Como?". Aí o golpe final, morrendo de rir, falou: "O último camarão que lhe trouxe , foi aquele primeiro". Fantástico !!! E ainda, às vezes, somava a data junto com os outros valores. VOVÔ, no céu não pode fazer isso!!!

Pescoço (AABB), bom de beira de piscina, Jandir Caçador (Baiano de Tênis), Pinto Bombeiro (Baiano de Tênis) trocava tudo; uma vez pedi a ele um cigarro e um uísque. O cigarro  veio certo, mas o uísque virou um mixto, tudo bem. Fraknit (Baiano de Tênis), talvez o mais perfeito do ramo, sempre alegre, sabia o nome de todo mundo. Julio (Baiano de Tênis) um dia serviu ao presidente João Figueiredo. Eu disse elogiando: "Parabéns, maître do presidente". Ele imediatamente completou: "E do senhor também... gorjeta garantida". 

Maître Ramon (Yate), excepcional profissional, falava outras línguas, nunca vi habilidade igual servindo uma truta. Maître Jean Carlos (Yate, entre outros) sabia tudo de vinho. Santana (Baby Beef), amigão, Almeidinha (Baby Beef), atenciosíssimo, antecipava o pedido, já sabia o que agente ia pedir. Edelmo (Barbacoa) apelidei de Arrepiado, pelo corte do cabelo, gente boa. Chantilly (Barbacoa) era auxiliar e super bem humorado, o apelido é pra constrastar com a cor da pele, ele morre de rir.

Barreto (Yemanja) mulher maître e administradora da casa, uma queridíssima amiga. Jaime (Botino), amigo legal, Torres (Botino e Alfredo de Roma), brinco dizendo que ele serviu na Santa Ceia, ele adora. XUXÚ garçonete do Di Liana (um doce de pessoa, me trata como se eu fosse um bebê). Seu Laurentino (Adegão Português, Rio) todo dia 16 de outubro, Dia de Santa Edwiges, estava lá com ele. Fique triste quando da última vez cheguei o procurando e me informaram que tinha ido morar no céu. Trabalhou até os noventa anos, sempre com o mesmo vigor, guardo com carinho as fotos que tenho com ele. 

Pedro (Llamas, Rio de Janeiro) foi o garçom preferido de Chico Anísio. Geraldo (Bar do Beto, Rio de Janeiro), baiano, já mora lá há mais de 30 anos, sabe fazer salmoura como ninguém. Zé e Quelé (Porto do Moreira), sempre improvisam um lugar. Herba Life ( Juarez), dono e a simplicidade em pessoa. Clarindo Silva é o proprietário da Cantina da Lua, mas pode lhe atender com toda a simplicidade que Deus lhe deu, nossos pais são compadres. Leonel (Bargaço) foi tudo, de garçom a grande empresário, exemplo de tenacidade e coragem como investidor. Infelizmente foi cedo se encontrar com o Senhor.

Claro que depois dos 70 anos esquecerei de muitos  desse soldados da gastronomia, mas fica a certeza de que, com esse exército, não tem quem morra de fome. Tenho  carinho por todos eles e agradeço sempre pelo carinho recíproco.

Seria muito bom se nós agíssemos como os garçons. Mesmo  sem o necessário profissionalismo .

Amigo, traga a conta.

Ruy Botelho.

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