Ponto de Vista: Guerra Cívica pela educação
15.7.21Ao eminente casal Sirlei e General Leonel Filho!
Os dois maiores problemas nacionais, dos quais derivam todos os outros, são a má qualidade da educação - do ensino fundamental ao superior -, e a má qualidade da saúde, originária, sobretudo, da precariedade do saneamento básico para a maioria da população brasileira.
Sem acesso a educação de qualidade, as pessoas escolhem mal os seus dirigentes, resultando no desperdício, mal emprego ou roubo dos recursos públicos, de tão fundamental importância para a construção da infraestrutura física e social que responde pela elevação do IDH dos povos. Sem saneamento, a população adoece, comprometendo sua vida física, emocional e intelectual, sua produtividade e longevidade. Segundo a Oxfam (Oxford Famine), a partir da comparação entre os bairros Tiradentes, popular, e Higienópolis, rico, na cidade de São Paulo, a longevidade média brasileira, entre os grupos sociais com bom e mau saneamento pode variar 25 anos, de 79 para 54 anos. Emprestar o dinheiro do contribuinte a nações estrangeiras, como fizemos em passado recente, em lugar de aplicá-lo em saneamento básico, de que carece mais da metade da população brasileira, constitui genocídio protraído. Cálculo demográfico estima que, no Brasil, anualmente, morrem entre 500 e 600 mil pessoas a mais, do que morreriam, se tivessem acesso a saneamento básico! Uma Covid crônica a devorar as populações pobres, sem que haja reclamações!
Há vários anos, a CNI, Confederação Nacional das Indústrias, vem emitindo notas técnicas para explicar que a perda crescente de competitividade dos manufaturados brasileiros, no mercado internacional, deriva da má qualidade de nossa mão de obra que, por sua vez, resulta da má qualidade de nossa educação, dominada por um negacionismo que persiste em priorizar critérios ideológicos, sobre o desempenho acadêmico, como instrumento aferidor do mérito. Receita certa para a vaca ir para o brejo. A medíocre participação brasileira na produção de estudos e pesquisas de interesse científico confirma esse mau desempenho.
Como consequência, vivemos um crescente apartheid social, com uma excessivamente desigual distribuição de renda que decorre, de modo linear, da desigualdade no acesso à educação de qualidade, pelos diferentes segmentos da população. O assunto é de candente urgência, demandando a adoção de medidas excepcionais, para revertermos o curso previsível dos acontecimentos que impedem a saída do Brasil da eterna e ufana condição de País do Futuro.
Não há mais tempo a perder. Duas medidas podem ser adotadas, simultaneamente. Uma seria a parceria público-privada, através da transferência de parte do alunado para escolas particulares, remuneradas pelo valor do custo médio por aluno, ao setor público. Outra seria a ampliação do departamento de educação das Forças Armadas – Marinha, Exército e Aeronáutica – para cuidarem do ensino de um quarto dos oito milhões do alunado público dos três anos que antecedem o ingresso na Universidade, com a ministração de cursos exclusivamente profissionalizantes. Recorde-se a grande tradição de elevado desempenho dos vários cursos ministrados pelas Forças Armadas Brasileiras. A par da incorporação de disciplina e método, nesse alunado seriam introjetados valores, de grande significado para restaurar a têmpera coletiva de irresignação contra os que, pousando de estadistas, se cevam com o programático assalto aos cofres públicos, diante de uma população abúlica, em processo de acelerada imbecilização.
Com essas inovadoras iniciativas, estaríamos agregando uma saudável dimensão esportiva aos processos de aprendizado, mediante o acompanhamento do rendimento de cada uma dessas frentes cívicas, empenhadas em retirar o Brasil do buraco em que se encontra, em matéria educacional, com a Bahia ocupando uma das mais desagradáveis, recônditas e abissais crateras.
Por Joaci Góes
PUBLICADO EM: Tribuna da Bahia - 15 de julho de 2021
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