Ponto de Vista: Antiquário Itamar Musse

20.7.21

 



Aos queridos amigos Márcia e Paulo Meccia! 


Num imaginário concurso para escolher a mais marcante iniciativa da atividade privada, na Bahia, o Antiquário Itamar Musse, localizado no Rio Vermelho, reúne credenciais para levar a palma. Essa é a conclusão de observadores experientes e de reconhecido bom gosto que já tiveram a oportunidade de conhecer este notável empreendimento, presente em Salvador há mais de duas décadas. Diferentemente da grande maioria dos negócios, este, por sua natureza especial, só pode ser visitado mediante prévio agendamento, razão pela qual é conhecido por um número relativamente pequeno de pessoas, ainda que sua clientela se distribua Brasil e Mundo afora. Nossa visita, ao lado de grandes personalidades, foi articulada pelo ex-secretário estadual de turismo Fausto Franco. 

O Antiquário Itamar Musse, que já se encontra na terceira geração, distingue-se por atributos que se interrelacionam, em caráter sinérgico, para produzir uma sensação de encanto, surpresa e regozijo que enseja dizer-se que a Bahia é uma terra apta a sediar os empreendimentos mais surpreendentes. Enseja, igualmente, um adendo ao conhecido e ácido aforismo  de Otávio Mangabeira, sobre a vocação da Bahia para sediar o precedente de qualquer absurdo, dizendo-se que a Bahia é vocacionada para oferecer agradáveis e inéditas surpresas aos de gosto mais exigente, não obstante seu preocupante declínio. 

Numa apertada síntese, podemos dizer que, no Antiquário, se destacam quatro características fundamentais: 1- a quantidade de peças expostas; 2- a diversidade; 3- a qualidade e, 4-, a harmonia como são expostas.  

Do ponto de vista da quantidade, basta dizer que ali há mais peças do que a soma das reunidas por todos os antiquários que já houve na Bahia. Pela diversidade falam os milhares de peças distintas que expõe. Pela qualidade, bem! Aí é preciso ver o desfile da história contada na expressão a um só tempo muda e loquaz de artefatos que testemunharam a saga baiana, brasileira, ibérica e de outras partes do mundo, ao longo dos últimos séculos. A nota de bom gosto advém da harmonia com que tamanho acervo é exposto, esvaziando a mínima sensação de atulhamento que, normalmente, poderia resultar de tantos elementos, suficientes para ornamentar ambientes palacianos de grandes dimensões, como observaram as pessoas que estiveram conosco na visita que fizemos ao empreendimento, na semana passada, guiados pelo proprietário e seu herdeiro, quarta geração, que dão nome ao antiquário, com os comentários de fundo histórico do arquiteto e acadêmico Francisco Senna, grande historiador, da melhor tradição brasileira.  

No antológico prefácio que Chico Senna escreveu para o livro -catálogo do Antiquário, transcrevemos um dos 28 parágrafos que o integram, escolhido quase que ao deus-dará, para dizer da atitude mental requerida para apreciar esse notável empreendimento de capital inteiramente privado: “Para reconhecer o valor cultural de um objeto, é fundamental educar o olhar com sensibilidade e um alto grau de conhecimento e juízo, sem perder de vista que os valores estão sujeitos a uma crítica especializada e ao gosto pessoal, tendo consciência de que a crítica não é uma ciência exata e gosto é algo que está sempre sujeito a revisão”. 

Todos os que militam no campo da arquitetura, da decoração de interiores, das artes, em geral, além dos dotados de bom gosto, devem conhecer o Antiquário Itamar Musse. 



Por Joaci Góes


PUBLICADO EM: Tribuna da Bahia - 17 de junho de 2021

IMAGEM DE CAPA: Google Street View

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