A metade cheia de 2020
7.12.20Dois mil e vinte foi um ano de muitos aprendizados. Na verdade, um intensivão.
Ainda menina, li o livro Polyana, que contava a história de uma menina que brincava de fazer o "jogo do contente" diante da impossibilidade de sair de casa, devido a uma doença. Aparentemente bobinha, ela me contagiou pra sempre com a ideia de tentar enxergar o lado bom das coisas, qualquer que seja a situação.
Muitos anos se passaram e nem sempre foi fácil, pois à medida que vamos percorrendo mais estradas nos deparamos com muitas situações inusitadas e desafiadoras, testadoras de nossa coragem e paciência. Mas a alegria de viver é minha companheira de estrada e dela não abro mão.
Em 2020 não foi diferente. Há dez meses com a liberdade restringida, tive muitos momentos de dor, medo e angústia, perdi pessoas, que me eram importantes, dentre elas o meu amado pai. Há muitas coisas que me fariam querer riscar esse ano do mapa, mas, apesar das dores que ele causou até aqui, não posso deixar de enxergar o que me aconteceu de bom.
Neste ano, não pude sair livremente como quis, mas pude passar todo o tempo em companhia de minha família, e se houve algumas faíscas por conta deste convívio intenso, houve muito mais risadas e trocas de afeto, que tornaram os dias mais leves, e não há como deixar de enxergar a metade cheia de bem-estar desse copo.
Logo após a enorme perda na minha família veio a pandemia, e, com todas as limitações impostas por ela, as minhas irmãs se uniram cada vez mais e vêm dando um show de amor e cuidados com a nossa mãe, e isso inundou a todos de alegria! O amor mostrou toda a sua força e poder de regeneração e é muito lindo vê-las seguindo adiante tão fortalecidas. E não há como deixar de enxergar a metade cheia de amorosidade desse copo.
Depois de um período de questionamentos interiores, buscando entender como canalizar melhor os meus talentos e voltar a me realizar profissionalmente, foi justamente 2020 que me proporcionou a oportunidade de me olhar mais atentamente e encontrar a resposta. Nele, me reinventei e abracei uma paixão antiga, a confeitaria. E não há como deixar de enxergar a metade cheia de realizações deste copo.
Definitivamente, 2020 foi um ano muito impactante para toda a humanidade. Ainda não acabou, nem a pandemia. Temos que seguir nos cuidando, por nós e pelos outros, mas não há como riscar do mapa o ano que nos ensinou o valor dos amigos por não podermos estar com eles, do sorriso quando todas as bocas estão cobertas por máscaras e do abraço quando não podemos demonstrar calor humano.
Assim, agradeço a Deus pelas coisas que verdadeiramente importam nesse louco 2020: estar viva, ter saúde e ser tocada pelo amor da minha família. Esta é a metade cheia desse copo!
Por Ceiça Schettini
ceicaschettini@uol.com.br
Escritora baiana, que acredita no poder de transformação da felicidade. Autora dos livros Energia e bom humor e A felicidade e uma escolha
PUBLICADO EM: Jornal A Tarde - 06 de dezembro de 2020
IMAGEM DE CAPA: Murray Rudd por Pixabay
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