Delegado Bussunda e o dinheiro na cueca do senador
27.10.20Quando li a manchete dizendo que um senador havia sido flagrado com mais de 30 mil reais na cueca, pensei ser alguma brincadeira relativa aos 15 anos daquele episódio ocorrido em 2005, onde um assessor do deputado José Guimarães, do PT do Ceará, foi preso com 100 mil dólares na dita-cuja. Mas aí, ao ler a matéria, primeiro veio à surpresa de sabê-la verdadeira. Depois, o susto de ver que o astro da bizarrice era o quase conterrâneo Chico Rodrigues. Explico.
Apesar de ter nascido em Recife, Chico morou em Paulo Afonso até os 16 anos, já que seu pai era motorista da Chesf. Depois de fazer o colegial aqui, ele foi estudar na capital pernambucana e voltou pra lecionar na Escola Rural, ocasião em que conheceu Selma Rodrigues, sua esposa.
Pois bem, o mais surpreendente desse caso – que lembra um quadro do Casseta e Planeta -, é a riqueza de detalhes do local onde o dinheiro estava camuflado e a forma como foi descoberto, sem falar na explicação meio retrô do senador por tê-lo entocado num local, digamos, tão cavernoso e úmido. “Foi impulso”, disse ele, talvez em homenagem àquela velha propaganda dos anos 80 de um desodorante, que mostrava uma menina andando e uns marmanjos seguindo-a com rosas nas mãos, enquanto uma voz em off dizia: “O desodorante que deixa você tão atraente, que se de repente um desconhecido lhe oferecer flores, isso é Impulse”. Mas voltemos aos fatos.
Semana passada a Polícia Federal cumpriu seis mandatos de busca e apreensão em Boa Vista, apurando um suposto esquema de desvio de recursos públicos para o combate ao coronavírus em Roraima. Um dos endereços visitados foi o do senador Chico Rodrigues, vice-líder do governo Bolsonaro.
Conta o delegado Wedson (função que cairia como uma luva em Bussunda, até pela oportunidade da rima) que Chico, bastante nervoso, insistia em ir ao banheiro. Aí, desconfiado do volume em formato de cocadas nas nádegas do senador, seu delega deu um belo confere nas tais protuberâncias e, segurando o riso, quis saber que diabo era aquilo quase furando a malha de seu pijama. Foi aí que Chico deveria ter incorporado um personagem do saudoso besteirol e dito algo do tipo: “Ah, isso? Isso é uma cueca bunda rica que uma baiana me mandou de Maceió, que já vem recheada com dinheiro vivo”.
E aí, aproveitando o bigode no estilo daquele caubói do Village People, começaria a dançar e a cantar I Will Survive, enquanto jogava pela janela vários maços de onças aflitas, garoupas sufocadas e lobos-guarás entorpecidos, dizendo: “Vão, minhas criaturinhas, voltem para o Pantanal que titio Bolsonaro já apagou o incêndio”.
Assustado diante do ocorrido, só restaria ao delegado Wedson Bussunda encerrar o caso prendendo o coitado do Tadeu, aquele que pegou a irmã de Clemilda e… crau!
Por Janio Ferreira Soares
Janio Ferreira Soares, cronista, é secretário de Cultura de Paulo Afonso, na beirada baiana do Rio São Francisco.
PUBLICADO EM: Bahia em Pauta - 25 de outubro de 2020
IMAGEM DE CAPA: pasja1000 por Pixabay
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