Metade - Oswaldo Montenegro

10.9.20


O poema Metade, de autoria do cantor e compositor Oswaldo Montenegro, como parte da peça “João sem Nome”. O espetáculo foi montado inicialmente por Hugo Rodas, um coreógrafo e diretor uruguaio radicado em Brasília, que influenciou muito Oswaldo em relação a montagem de peças musicais. Uma peça de temática nordestina, que fala da ânsia de querer ir embora e da ilusão que existe nisso.

A ilusão criada pela mídia, de que nas grandes cidades todos irão se dar bem. “João sem Nome” é sobre essa analogia de ir embora. Foi montado em 1975, em Brasília, e em 1976, no Rio de Janeiro. Através dessa peça, o grupo de teatro que já contava com Madalena Salles, José Alexandre, Mongol e outros, foi batizado formalmente pelo crítico do Jornal do Brasil, Yan Mishalsky, de "Os Novos Menestréis".


Metade

por Oswaldo Montenegro


Que a força do medo que tenho

Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito

Não me tape os ouvidos e a boca

Porque metade de mim é o que eu grito

Mas a outra metade é silêncio


Que a música que ouço ao longe

Seja linda ainda que tristeza

Que a mulher que amo seja pra sempre amada

Mesmo que distante

Pois metade de mim é partida

Mas a outra metade é saudade


Que as palavras que falo

Não sejam ouvidas como prece, nem repetidas com fervor

Apenas respeitadas como a única coisa

Que resta a um homem inundado de sentimentos

Porque metade de mim é o que ouço

Mas a outra metade é o que calo


Que essa minha vontade de ir embora

Se transforme na calma e na paz que mereço

Que essa tensão que me corrói por dentro

Seja um dia recompensada

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso

Que eu me lembro ter dado na infância

Porque metade de mim é a lembrança do que fui

Mas a outra metade, não sei


Que não seja preciso mais do que uma simples alegria

Pra me fazer aquietar o espírito

E que o teu silêncio me fale cada vez mais

Porque metade de mim é abrigo

Mas a outra metade é cansaço


Que a arte nos aponte uma resposta

Mesmo que ela mesma não saiba

E que ninguém a tente complicar

Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer

Porque metade de mim é plateia

A outra metade é canção

E que a minha loucura seja perdoada

Pois metade de mim é amor

E a outra metade também







Com informações da Assessoria de Comunicação de Oswaldo Montenegro

IMAGEM DE CAPA: CJS*64 on VisualHunt

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