O Tempo e o Vento, de Érico Veríssimo
29.7.20Durante as décadas de 40 e 50 esteve durante alguns períodos nos EUA, primeiro como professor de Literatura Brasileira da Universidade da Califórnia em Berkeley, e depois como diretor de assuntos culturais da OEA, em Washington. Ambas as estadias renderam livros publicados.
Autor de dezenas de contos, romances, ensaios e novelas (dentre outras obras), e traduzido em línguas que vão do inglês ao russo, dentre suas obras mais reconhecidas podemos destacar Olhai os Lírios do Campo, de 1938, transformado em telenovela pela TV Globo em 1980, adaptada por Geraldo Vietri e dirigida por Herval Rossano, Incidente em Antares , de 1971 (dessa vez, transformado em minissérie, também pela TV Globo, em 1994, com direção de Paulo José e estrelado por Fernanda Montenegro e Paulo Betti), além da série O Tempo e o Vento (1949 - 1962), que foi adaptada para telenovela em 1967 pela extinta TV Excelsior, e minissérie pela TV Globo em 1985, dirigida por Paulo José e estrelada por Tarcísio Meira e Glória Pires.
O Tempo e o Vento, série literária de romance histórico, está dividida em três partes: O Continente (1949), O Retrato (1951) e O Arquipélago (1962), ambientados no Rio Grande do Sul, e cujo objeitvo do autor foi contar parte da história do Brasil a partir da saga de algumas famílias sulistas desde a ocupação do "Continente de São Pedro" (1745) ao fim do Estado Novo (1945), ou seja, 200 anos de história brasileira, mas essencialmente, gaúcha.
É ainda considerado uma das maiores sagas da literatura nacional, senão a maior, com suas mais de 3000 páginas caminhando, cavalgando, guerreando, amando, sofrendo e, por que não, morrendo com as aventuras das famílias Terra e Cambará.
O livro O Continente (VOLUME I, 2004, 416 p. e VOLUME II, 2004, 495 p. Ed. Cia das Letras) abre a trilogia. O autor mergulha no passado do Rio Grande do Sul e do Brasil em busca das raízes do presente. O país vive um momento de redescoberta de si e de redefinição de caminhos, com o fim do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, e o começo da Guerra Fria. Essa é a moldura para sua visão vertiginosa da violência e das paixões na definição da fronteira e nas guerras civis de seu estado natal. O Continente lança o leitor em plena ação, durante o cerco das tropas federalistas ao Sobrado do republicano Licurgo Cambará, em 1895, para em seguida retroceder um século e meio e mostrar as origens míticas e históricas do clã Terra Cambará. Acompanhando a formação dessa família, Érico nos apresenta toda a saga.
O segundo volume de O Continente ocorre sob a influência de Bibiana. A submissa esposa do Capitão é a figura principal da sequência dessa obra seminal de Érico Veríssimo.
A trama central envolve a luta surda entre Bibiana e a nora, a enigmática Luzia Cambará, figura atormentada que atemoriza o frágil Bolívar, seu marido, que muito pouco lembra o Capitão Rodrigo, já que é um homem indeciso e sombrio. A posse do neto Licurgo é o grande objetivo de Bibiana, que vê no menino a expressão máxima da continuação da saga familiar.
Apesar de mais cadenciado que no livro anterior, no segundo o romance deslancha a partir da retomada da história do cerco ao Sobrado, iniciada no primeiro volume, quando Licurgo, já adulto, comanda a família na resistência dramática ao ataque dos Federalistas.
O Retrato (VOLUME I, 2004, 384 p. e VOLUME II, 2004, 427 p. Ed. Cia das Letras), continua a percorrer a história do Brasil e do Rio Grande do Sul acompanhando a trajetória da família Terra Cambará. Aqui, Rodrigo Cambará, bisneto do heróico capitão Rodrigo, homem sedutor, sobranceiro, torna-se líder populista, amante das causa populares - e da própria imagem. Seu projeto é modernizar tudo - da casa onde vive à cidade inteira - e proteger os pobres. Depois de aderir ao governo de Getúlio Vargas, muda-se para o Rio de Janeiro durante o Estado Novo. Em 1945, porém, com a queda de Vargas e já muito doente, Rodrigo volta à cidade natal para um ajuste de contas com a família.
o volume dois de O Retrato conclui a segunda parte de O Tempo e o Vento. No fim do Estado Novo e da Segunda Guerra Mundial, a família Terra Cambará não se reconhece no país que ajudou a construir.
A obra O Arquipélago (VOLUME I, 2004, 384 p. VOLUME II, 2004, 432 p. e VOLUME III, 2004, 560 p. Ed. Cia das Letras), que conclui a saga O Tempo e o Vento, Érico Veríssimo encerra a saga da família Terra Cambará. No primeiro volume, o Brasil, o Rio Grande do Sul e Santa Fé se modernizam. Não cabem mais nos planos das oligarquias tradicionais. Os Cambarás retiram o apoio ao governo e aderem à revolução libertadora em 1923: retomam o caminho da armas e das coxilhas ao lado dos maragatos, antes arqui-inimigos.
As peripécias e paixões da luta são narradas pela perspectiva do escritor Floriano Cambará, que em 1945, com a queda de Getúlio Vargas, relembra os passos de sua vida, o tempo que perdeu e a memória que conquistou.
No segundo volume, os conflitos delineados no primeiro se adensam. A revolução de 23 chega ao fim e ao Rio Grande do Sul é pacificado, mas por pouco tempo. As novas contradições do Brasil chegam à família Terra Cambará: guarnições militares das Missões se rebelam e Toríbio, o irmão mais velho de Rodrigo, une-se a elas na formação de uma coluna revolucionária que tem um "ilustre desconhecido" à frente, um certo capitão Luiz Carlos Prestes ... No plano da memória, em 1945, o escritor Floriano Cambará se deixa tomar por sua paixão pela cunhada, desenhando um conflito ameaçador na já precária paz familiar.
No volume III a trilogia O Tempo e o Vento chega ao fim. Os caudilhos gaúchos se rebelam, tomam a capital federal e inauguram uma nova era política no Brasil.
Na cidade fictícia de Santa Fé, a família Terra Cambará é abalada por novos conflitos: Toríbio rompe com o irmão e vai ao encontro de seu inapelável destino. Nessa atmosfera tumultuada, Sílvia, a amada do escritor Floriano, revela seu mundo num diário surpreendente, impregnado pela época sombria da Segunda Guerra Mundial. Tudo converge para uma encruzilhada de tempos e memórias: Rodrigo Cambará tem um acerto de contas definitivo com o filho, Floriano, que começa a escrever o grande romance de sua vida.
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