LIVROS: A vida e obra de nosso eterno Jorge Amado

22.7.20



Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna - Bahia, 1912, Salvador - Bahia, 2001)

Jorge Amado dizia acreditar nos milagres do povo. Militava no comunismo sim, desde jovem, mas acreditava em deuses que chegaram ao Brasil no porão dos navios negreiros - e que ainda hoje vêm dançar diante dos homens.

Filho de Oxóssi, o orixá das matas, e possuindo o cargo honorífico de Obá de Xangô do Terreiro Ilê Axé Opô Afonjá (Patrimônio Cultural Brasileiro, tombado pelo IPHAN), ele é um dos autores brasileiros de maior sucesso comercial dentro e fora do País. Não é a à toa que a imagem que o Brasil construiu de si - e a que o mundo tem dele - passa em parte pelos seus livros. Amado deixou uma obra solar, sensual e bem-humorada, que toma como matriz a cultura popular - em especial, a herança africana.

Um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos.
Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira. Verdadeiros sucessos como Tieta do Agreste, Gabriela, Cravo e Canela e Teresa Batista Cansada de Guerra são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos e Tenda dos Milagres.

A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.

Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Foi Imortal da Academia Brasileira de Letras eleito em abril de 1961, além de ter sido agraciado com as mais diversas ordens e condecorações de países de todo o mundo pelo conjunto de sua vida e obra. Em 1994 viu sua produção literária ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa.

Dentre sua extensa obra, dividida em duas fases (a primeira, de caráter mais crítico-social e político, e a segunda, reconhecida como de modernismo regionalista).




Seus romances mostram os problemas e a vida das classes menos favorecidas de Salvador. Seus personagens típicos são os homens do cais do porto, menores abandonados, pais de santo, prostitutas, mascates, capoeiristas e malandros. Jorge Amado também retratou costumes populares e as festas populares.

A primeira fase apresenta como características:

  • A imaginação criativa, onde personagens e acontecimentos surgem e desaparecem freneticamente;
  • A generosidade humana, onde o autor põe-se ao lado dos menos favorecidos (pobres, marginais e especialmente os negros, que no período de 1930 e 1940 eram repudiados pelas elites brasileiras);
  • Conhecimento, aparentemente inesgotável, das formas de vida das camadas populares (costumes, ofícios, modo de ser e agir, religiosidade e estratégias de sobrevivência do povo baiano);
  • Valor documental de seus registros (sociedade cacaueira e cultura afro-brasileira);
  • Capacidade de criar tipos humanos primitivos (seres psicologicamente rústicos, que viviam de acordo com suas emoções e instintos);
  • Obscenidade na linguagem e nos atos de seus personagens (por muitos confundido com pornografia), carregado de palavrões e com função erótica, como protesto literário contra os falsos pudores e moralismos das classes mais privilegiadas.
  • Personagens originários do povo.
Nesta fase, encontramos títulos como  O País do Carnaval (1930); Cacau (1933); Suor (1934); Jubiabá (1935); Mar morto (1936); Capitães da areia (1937); Terras do Sem-Fim (1943); São Jorge dos Ilhéus (1944); Seara vermelha (1946); Os subterrâneos da liberdade (1954).

Da segunda fase, por sua vez, temos obras primas como Gabriela, cravo e canela (1958); A morte e a morte de Quincas Berro d'Água (1961); Os velhos marinheiros ou o capitão de longo curso (1961); Os pastores da noite (1964); O Compadre de Ogum (1964); Dona Flor e Seus Dois Maridos (1966); Tenda dos milagres (1969); Teresa Batista cansada de guerra (1972); Tieta do Agreste (1977); Farda, fardão, camisola de dormir (1979); Tocaia grande (1984); O sumiço da santa (1988); A descoberta da América pelos turcos (1994).

Nesta fase, encontramos personagens de origem popular. No entanto, nela são os representantes dessa classe que enfrentam as agruras da vida com fibra, determinação, alegria, autenticidade e solidariedade.

  • A luta dos personagens é contra valores morais, preconceitos raciais e sociais, hipocrisia sexual, fanatismo e presunção, sobretudo da pequena burguesia.
  • Esforço pela liberação dos instintos e detrimento do amor livre e espontâneo.
  • Visão humorística da realidade, onde o riso é mostrado como forma de resistência popular.
  • Utilização de elementos do folclore e da tradição religiosa negra, elementos da mitologia do candomblé, que é valorizada. Uso de pornografia leve e ironia.
Falecido em 2001 por problemas cardiorrespiratórios. Suas cinzas foram, então, espalhadas pelo jardim casa onde viveu por cerca de quatro décadas com sua esposa, a também escritora e sua sucessora na cadeira de número 26 da ABL, Zélia Gattai. O local foi convertido de residência da família Amado em um memorial sobre a vida e obra dos autores, a Casa do Rio Vermelho, um equipamento cultural aberto ao público (visitas gratuitas às quartas-feiras).



Foto: Xico Diniz

No local onde as cinzas de Jorge Amado e Zélia Gattai (em 2008) foram descansar entre as plantas de sua casa em Salvador, até hoje, lê-se uma frase dele: "Aqui, neste recanto de jardim, quero repousar em paz quando chegar a hora, eis o meu testamento".




Atualmente a sua obra foi reeditada pela Editora Companhia das Letras, e pode ser encontrada para compra através das principais livrarias, como Saraiva e Cultura, bem como na Amazon Brasil.

Para conhecer mais sobre a vida e a vasta obra de Jorge Amado, sugerimos o livro escrito pela Jornalista Josélia Aguiar, intitulada Jorge Amado: Uma Biografia, (640 p.) lançado pela Editora Todavia em 2018.



IMAGENS: Reprodução Web e Fotógrafo Xico Diniz


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