Três & Um
30.6.20Uma tarde com Vinicius
Meu pai (e patrão) jogava duro comigo. De verdade. Hoje já começo a lhe creditar alguma razão. Eu era osso duro de roer, quando criança e adolescente, e como comecei a trabalhar cedo, ele não perdia a oportunidade de me “orientar”. Ao seu modo.
De vez em quando, no dia de receber o meu pagamento, eu recebia uma duplicata de algum cliente. Eu deveria cobrá-la, e assim, receberia o meu e daria o troco.
Numa segunda-feira, recebido o envelope com a minha surpresa, me mandei para a Moenda – restaurante temático de sucesso, especialista em culinária baiana, e shows folclóricos – na esperança de encontrar o seu proprietário, medico oftalmologista, cantor e boêmio, gente boa mesmo!
Lá chegando, perguntei a uma das baianas: cadê Ermano? E ela: lá em cima.
Quando abri a porta da sala, encontrei Vinicius de Moraes, sem camisa, tocando violão, sentado no chão, Ermano ao lado, na frente dos dois uma garrafa de vinho Rosé D’Anjou, algumas baianas-garçonetes cantando .
Meu cliente sinaliza para eu me acomodar, e assim, esqueci totalmente o que fui fazer e curti uma deliciosa tarde de musica, vinho e poesia com o nosso poetinha.
Chegando em casa, meu pai perguntou logo: recebeu? Não ia dar para explicar, então respondi: o cliente não estava. Vou voltar amanhã. Anos depois contei a verdadeira história e meu pai riu! Valeu!
Uma reunião com Chico Buarque
Recebi em meu escritório a visita de uma grande amiga, que foi me procurar para que eu opinasse sobre uma estratégia que ela havia desenvolvido para ajudar algumas creches para órfãos no Rio de Janeiro.
Após ouvi-la, e como se tratava de projeto para arrecadar recursos junto a empresários amigos do seu marido, então presidente de uma grande empresa, sugeri que desenvolvesse projetos que gerassem recursos, sem que ficassem para sempre “passando o chapéu”.
Ela então me pediu para ajudá-la, e assim, levei alguns dias preparando sugestões. Entre elas, sugeri que fosse feita a remontagem da Ópera do Malandro, de Chico Buarque, que tinha sido um sucesso quando foi encenada.
O prestígio do marido fez com que em poucos dias, a agência de propaganda de um amigo do casal providenciasse uma reunião e prá lá me dirigi, convocado.
À mesa estavam Chico, seu empresário, Vinicius, Liége Monteiro, eu, minha amiga e o dono da agência.
Então, o Chico abre a reunião dizendo: esta é a primeira vez que sou convidado por uma empresa interessada em me patrocinar! Me contem o porquê.
E eu, com a maior cara de pau disse: Quando a Ópera foi encenada, eu morava na Bahia, e não assisti. Agora, inseri esta ideia no projeto da minha amiga, para ver se conseguia!!! Todos riram.
Finda a reunião, tirei da minha pasta um LP da Ópera, e pedi ao Chico que a autografasse.
Ele escreveu:
"Ao Rubem, com o desejo de que ele finalmente possa assistir a Ópera do Malandro. Abraço. Chico Buarque"
Um autografo de Tim Maia
Era a minha terceira tentativa de assistir um show do Tim. A anterior, ele não foi porque o Botafogo havia perdido. Muito justo! A fila enorme na porta do Scalla, e a tal da comunicação.
Na segunda, no Canecão, o cancelamento ocorreu dias antes.
Finalmente, ele faria um show intimista, num bar fantástico que havia no Rio, o People.
Sentamos numa ótima mesa, bebemos um bom whisky e assistimos embevecidos o show do Síndico!
Ao final, com um LP na mão, me dirijo ao Tim e peço um autógrafo.
Ele, suando em bicas, me pergunta o meu nome e escreve bastante na capa do disco.
Quando cheguei em casa, não consegui entender nenhuma palavra da dedicatória. Pedi ajuda a vários amigo, e nada.
Pois é, tenho uma dedicatória autografada de Tim Maia. SECRETA!
Rubem Passos Segundo
Salvador, maio de 2014
FOTO DE CAPA: Montagem da Ópera do Malandro, de Chico Buarque. Reprodução WEB.
2 comentários
Eles é que têm sorte de ter cruzado seus caminhos com você Pai!
ResponderExcluirMuita história para contar...!
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