Don Juan em Avaré
23.6.20Em 1980, a Melitta, prestes a inaugurar sua fabrica de café, que viria a ser a pioneira na utilização de vácuo na embalagem dos seus produtos, convoca seus representantes (ói nóis aqui, traveis!), gerentes e vendedores, para uma visita às novas instalações.
Não lembro exatamente o mês, mas, fazia muito frio.
Para São Paulo veio gente de todo o Brasil, e na hora marcada, embarcamos num ônibus leito, rumo a cidade de Avaré.
Como um homem prevenido vale por dois, levei uma meia garrafa de whisky que tinha, na minha sacola. Vai que o frio aperta, né não?
Muito bem , o ônibus partiu, e até sair dos limites da cidade de São Paulo, a conversa corria à solta. Um monte de vendedores juntos, tem que ter muito papo.
Demorou um pouquinho e o papo foi diminuindo, o sono chegando, e, tão logo o ônibus passou de um pedágio, PÔ!!! Estourou um pneu dianteiro!
O motorista parou no acostamento, descemos todos para ver o que foi, lógico, mas o frio nos empurrou de volta ao ônibus.
Com todo o cuidado para ninguém ver, enfiei a mão na minha sacola, peguei sorrateiramente a garrafa, e só foi o tempo de dar um golão. Vupt! Foi arrancada das minhas mãos, e em pouco minutos retornou para o meu segundo e ultimo gole!!! Ainda bem que fiquei com o casco para a próxima viagem.
Pneu trocado, viagem completada, chegamos todos cansados ao Hotel em Avaré.
Café da manhã marcado para as 08:00h, e saída para a fábrica às 09:00h. A ideia era visitarmos a fábrica, depois almoço seguido de reunião de vendas, e retorno ao hotel para jantar, dormir e dia seguinte, retornar à São Paulo.
Detalhe importante: éramos cerca de 30 pessoas, sendo 27 homens e 3 mulheres.
Um senhora beirando os 70 anos, outra senhora de uns 45, amiga de todos, e uma jovem de pouco mais de 20 anos, secretaria do Gerente de Vendas.
Esta última, claro, alvo de todas as atenções, olhares e desejos dos galãs presentes, eu à frente, naturalmente.
Cumprida toda a agenda, nos recolhemos aos nossos apartamentos, todos muito bem servidos, com frigobar abastecido de água e refrigerantes, ar condicionado, etc. Após o banho, vesti minha inseparável pijama, e ...cama.
Não demorou nada, o telefone tocou!
- Alô
- Guga?
- Sim
- Fulana
- Oi!!!
- O que você esta fazendo?
- Deitado, pensando em você!!! (bingo!)
- Porque você não vem ao meu quarto?
- Posso???
- Venha. Estou me sentindo muito sozinha. Vou deixar a porta encostada...
- Tô indo!!!
Aí mermão, consciente da infalibilidade e irresistibilidade da minha simpatia e beleza, nem pensei duas vezes. Dei uma penteada rápida nos cabelos, e de pijama e sandália de dedo, esgueirei-me pelo corredor até chegar ao desejado ninho de amor, cuja porta, conforme combinado, estava encostadinha da silva! Aê era só correr para o abraço!
Empurrei a porta devagarzinho e ........................ lá estavam, sentados num sofá, a papear, o Gerente Comercial e o Diretor de Marketing.
- Oi, um deles falou
- Tem água? (Foi tudo que consegui pronunciar)
- Claro. Pode pegar! No seu quarto não tem?
- Acabou! Obrigado, boa noite e, desculpe aí!!!
Rapaz, nem uma risadinha os FDP's deram!! Nada!
Voltei para o meu quarto, P da vida, peguei o telefone para ligar para a cidadã, ainda na vã esperança que eu tivesse errado o numero do quarto, e nada. Ela tirara o telefone do gancho e assim, tive que concluir que fui o bobo daquela corte.
Dia seguinte, segurei a dita cuja pelo braço, e antes de conseguir pronunciar uma única palavra, ela falou:
-Foi o nosso chefe que mandou!
Ponto final! a vingança viria mais tarde, mas aí, já é outra história.
Rubem Passos Segundo
Salvador, outubro 2015
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